Le Corbusier - o inesquecível

Le Corbusier
Qualquer visita à famosa capela de Ronchamp, idealizada por Le Corbusier, que fica localizada no sopé dos Vosges, França, deixa qualquer um, que se interesse por arquitectura moderna, maravilhado. Ao visitarmos esta capela, fica-se impressionado com a beleza do tecto curvo e das paredes abauladas, caiadas de branco, e também com a maneira engenhosa como o arquitecto conseguiu que a luz natural entrasse pelas janelas através de aberturas distribuídas irregularmente nas paredes. A simplicidade e as linhas puras dessa capela conquistam qualquer alma - um feitiço que ainda hoje, passadas algumas décadas, não desapareceu.
Durante o verão de 1957, o museu de arte de Zurique fez uma exibição dos projectos, pinturas, desenhos e esculturas de Le Corbusier. Este arquitecto, que afinal era também pintor, utilizava as cores de tal forma que tinham sobre os visitantes o efeito de um choque eléctrico - vermelhos vivos, azuis quentes, laranjas brilhantes, verdes e amarelos. Essas extraordinárias formas evocativas eram uma explosão de força e vitalidade!
Quadros abstractos como La visiteuse s'en va, mostrando duas mulheres numa composição rosa, branca e cor da pele, ou o dramático Guerra, representando um homem vestido de cinzento, desesperado, segurando nos braços um bebé e lançando aos céus um olhar sublime, tornaram-se peças importantes da sua colecção.
Le Corbusier, suíço que, em 1917, aos 30 anos de idade, se estabelecera em Paris e mudara o seu nome verdadeiro, Charles Edouard Jeanneret, para Le Corbusier, vivia como um recluso e tornou-se impopular pela maneira brusca como enxotava os Visitantes. Porém, Le Corbusier, era de facto uma pessoa simpática, afável e descontraída.
Os grandiosos projectos arquitectónicos e os planos de urbanismo de Le Corbusier tinham muito mais relevância que as suas pinturas. O seu génio e sagacidade fizeram dele um pioneiro em vários conceitos de construção: o uso do cimento armado na construção da estrutura dos prédios, edifícios de escritórios espaçosos e de concepções audaciosas, telhados planos com jardins, usados como áreas de lazer, e a separação das zonas reservadas a pedestres das utilizadas por veículos motorizados.
A sua «Unidade de Habitação», em Marselha, um edifício de apartamentos para uma «comunidade» de 1.600 pessoas, foi um exemplo extraordinário do que um conjunto habitacional financiado pelo Estado pode ser: englobava 337 apartamentos duplos, uma área comercial, um ginásio, com piscina na cobertura, e uma creche; os tubos dos exaustores eram estilizados, de modo a disfarçarem com elegância o sistema de exaustão. Na opinião de Walter Gropius, um arquitecto afamado: «Todo o arquitecto que não achar este edifício lindo bem pode mudar de carreira.»
Na figura (em cima): O último edifício que Le Corbusier desenhou: terminado em 1967, este museu exibe uma exposição permanente das suas obras.
O que mais atraiu as atenções do mundo, porém, foi Chandigarth, a nova capital que Le Corbusier construiu na região do Punjab, na Índia. Os seus espectaculares edifícios governamentais e as casas de concepção moderna, que seriam habitados por mais de 50 mil pessoas, foram notícia durante anos. Noutras ocasiões, foram as adjudicações arquitectónicas no Brasil, no Japão e na França, assim como os projectos em muitos outros países, que mantiveram o nome de Le Corbusier em foco.
No seu atelier de arquitectura havia muitos estagiários, jovens que vinham de toda a parte para aprender com ele. Anos mais tarde, iriam espalhar-se lendas sobre o maior arquitecto do nosso tempo, elogiando sua mestria de concepção, a sua lógica na criação de espaços interiores, a sua recusa em acomodar-se e a sua inesgotável criatividade.
Apesar da sua celebridade, Le Corbusier sofreu numerosas desilusões. Muitos dos seus projectos foram arquivados, frequentemente por serem considerados utópicos. Mesquinharias e intrigas estiveram na origem do fracasso de um dos principais projectos da sua vida. Entrara, em 1927, na competição para a construção do Palácio das Nações Unidas, em Genebra. Le Corbusier tinha uma boa vantagem sobre os 360 concorrentes e, ao fim de seis semanas de deliberações, seu projecto foi seleccionado, juntamente com outros oito. Um dos membros do júri internacional, porém, queixou-se que Le Corbusier submetera cópias em vez de desenhos originais a tinta e insistiu para que ele fosse desclassificado. Levantaram-se altos protestos. Nominalmente, o primeiro prémio foi atribuído a Le Corbusier, mas, na volta seguinte, seu projecto foi posto de parte. Le Corbusier recebeu mal o resultado, mas reagiu, lançando-se em novos empreendimentos.
Na figura (em cima): «Nature morte aux nombreux objets» (1923-1953). Natureza-morta sobre óleo.
Para Le Coirbusier, a arquitectura era um estado de espírito e não apenas uma profissão. Nessa época, era dever do arquitecto promover a felicidade e o conforto em todos os lares. Seus inúmeros planos de urbanismo tinham como finalidade criar casas espaçosas e bem iluminadas, para aqueles cujas condições de habitação ele considerava intoleráveis.
A imagem pública de Le Corbusier era a de um homem vaidoso, inacessível. Na verdade, ele era extremamente modesto. Também era magnânimo e respeitava o trabalho dos outros. Casa-museu. Le Corbusier partiu, mas algumas de suas frases ainda hoje continuam multo vivas. «Trabalhar não é um castigo», costumava dizer. «Trabalhar é respirar.» Le Corbusier conseguiu produzir 32 mil projectos, coligidos em 32 livros anotados, cerca de 50 publicações versando sobre arquitectura, planeamentos urbanísticos, pintura e poesia, bem como 6.500 obras de arte, tais como pinturas, tapeçarias e esculturas. «Representam 24 horas de cada dia do ano, e cada hora tem 60 minutos», era a resposta simpática de Le Corbusier. Em 1964 ficou encantado com a sua «Maison d'Homme». Esta seria uma casa na qual se poderia viver, seria o local ideal para as suas pinturas e esculturas.» No entanto, não podendo adivinhar que esta seria a sua última criação, dedicou-se ao empreendimento com extremo esmero. Le Corbusier sentiu-se satisfeito com o seu projecto. Para ele, o mais importante era o telhado destacado, independente da casa. Sustentado por nove pilares de aço, seria construído em primeiro lugar. Em seguida, seriam feitos os dois andares, constituídos por cubos com arestas de aço. Estes seriam conjuntados no próprio local e colocados sobre as fundações de concreto. As paredes de esmalte, bem como janelas, tectos e pavimentos, seriam em seguida atarrachados à estrutura de aço com mais de 20 mil parafusos.
Engenheiros e arquitectos estavam convencidos de que o projecto não tinha concretização possível e exigiram-lhe que fizesse inúmeras alterações. Durante dois dias, em Julho de 1965, Le Corbusier, então com 78 anos, batalhou até conseguir convencê-los que os seus planos eram válidos. O seu espírito combativo era magnífico, empolgante e irresistível. É essa imagem dele que sempre ficará na memória de quem conhece efectivamente a sua obra.
Le Corbusier faleceu vítima de um ataque cardíaco fatal a 27 de Agosto de 1965, quando nadava no mar em Cap Martin, e que pôs termo a uma vida plena. «A nossa vida é enriquecida», costumava dizer, «conforme o número de sonhos, desejos, esperanças e aspirações que conseguimos tor­nar realidade.» O seu desaparecimento foi uma grande perda para todos quanto apreciavam as suas obras e, só é pena que ele não tenha vivido o suficiente para ver a sua última criação. Essa maravilha de aço e vidro, com brilhantes paredes vermelhas, brancas, verdes, pretas e amarelas, o seu colorido telhado suspenso e os seus jogos de ângulos, que irradiam luz e alegria.
O lema deste arquitecto de renome internacional era: «Aquilo que você fizer, faça de verdade

1 comentário:

  1. Muito Bacana este artigo e o seu Blog.

    Parabéns!

    Abraços

    Marcos

    www.interioresdesign.wordpress.com

    ResponderEliminar

Leia as regras:
Todos os comentários são lidos e moderados previamente.
São publicados aqueles que respeitam as regras abaixo:

- O seu comentário precisa ter relação com o assunto do post;
- Em hipótese alguma faça propaganda de outros blogs ou sites;
- Não inclua links desnecessários no conteúdo do seu comentário;
- Se quiser deixar a sua URL, comente usando a opção OpenID.

O estado do tempo

Tempo Lisboa